Uma montanha de granito nos arredores de Salt Lake City, no Meio-Oeste americano, esconde o tesouro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. É lá que os mórmons, como são apelidados os praticantes de religião, guardam as bases do que eles pretendem transformar numa espécie de "goolge" para buscar pessoas e famílias. Em corredores intermináveis escavados no interior da montanha, arquivos me microfilme e, agora, grandes servidores armazenam nada menos que 1 trilhão de registros de individuos.
Esse enorme banco de dados é fruto do trabalho da Sociedade Genealógica de Utah, instituição sem fins lucrativos mantida pela igreja. Com funcionários espalhados ao redor do planeta, eles colhem informações para criar a maior árvore genealógica do mundo. "Na doutrina da Igreja, os relacionamentos familiares são eternos, não acabam com a morte. Daí a importância de as pessoas conhecerem a fundo a origem de suas familias", afirma Mario Silva, diretor responsável pela coleta das informações genealógicas na região que abrange Brasil, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Para isso, uma equipe de dez operadores viaja pelos rincões desses países levando uma parafernália que inclui câmera fotográfica, lente de aumento e uma mesa especial para acomodar os documentos que serão fotografados. Eles saem em busca de registros que comprovem a existência de uma pessoa e deem mais pistas sobre sua relações familiares. Esses documentos são fotografados e, posteriormente, catalogados. Tudo fica aramazenado na montanha de Salt Lake City em rolos de microfilme e, mais recentemente, na fomra de aruivos digitais.
Pode parecer curioso, mas a Igreja Catolica Romana é o principal aliado da Igreja na empreitada. As paróquias são fontes valiosas de informações porque guardam registros de batismos e casamentos. "O registro civil só se tornou obrigatório no país em 1920 e até hoje muita gente que nasce e morre sem ser documentada", observa Silva. Os inventários também são peças importantes no quebra-cabeças genealógico. "Muitas vezes, um filho fora do casamento só é reconhecido no testamento."
Esse material pode ser consultado gratuitamente por qualquer pessoa, ligada ou não a Igreja, em centros de pesquisa criados com essa finalidade. Só no Brasil, há mais de 200 deles.
De uns anos pra cá, a Sociedade Genealógica passou a investir na digitalização dos arquivos e criou um site (www.familysearch.org) onde é possível pesquisar nomes de pessoas, montar a árvore genealógica de uma família e encontrar documentos (por exemplo, a folha do livro onde está registrado o casamento de seus bisavós). Esse é um processo em andamento. A maioria dos registros ainda não está on-line.
O desafio é ainda maior porque a digitalização é feita enquanto a Igreja continua coletando registros. Eles estão longe do fim. Boa parte das paróquias e cartórios brasileiros não foi sequer percorrida. "Com todos os nossos esforços, mal arranhamos a superfície", diz Silva. "É um trabalho eterno."
Jornal Valor Economico